Queixas de que sistema tira competitividade do País ganham força com mudanças aprovadas nos EUA em dezembro Diretora executiva da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, Cassia Carvalho disse que os cem associados da entidade têm manifestado preocupação com a perda de competitividade do Brasile sinalizado a intenção de priorizar investimentos no território americano, especialmente depois do corte do Imposto de Renda corporativo de 35% para 21%, aprovado em dezembro. “É por isso que a reforma e a simplificação tributária no Brasil são importantíssimas”, afirmou. “Essa agenda tem de avançar. Do contrário, ficaremos cada vez mais para trás.” O conselho reúne as multinacionais americanas que têm investimentos no Brasil. Cassia disse ter esperança de que o Congresso aprove pelo menos medidas pontuais de simplificação antes de março, entre as quais a relativa ao PIS/Cofins. Curto prazo. João Manoel Pinho de Mello, secretário de Produtividade do Ministério da Fazenda, ponderou que a frágil situação fiscal do Brasil inviabiliza uma discussão sobre corte de impostos no curto prazo. “Com o País entrando em uma rota de crescimento e conseguindo aprovar a reforma previdenciária, será natural pensar em uma reforma tributária”, observou. “A questão é a competitividade”, disse Dan Ioschpe, presidente do Fórum de Empresas Transnacionais Brasileiras. “A tributação é tratada como um fator de custo ao redor do mundo.” Segundo ele, a subsidiária de uma empresa brasileira nos EUA terá dificuldade em concorrer com outras instaladas no país porque terá de pagar parte da diferença entre a nova alíquota de 21% e os 34% exigidos no Brasil. “Ou ela acha outra maneira de reduzir o custo, o que é difícil, ou vai perder mercado.” Os EUA também tributavam o lucro obtido no exterior por suas empresas, mas só no momento em que ele era internalizado. Isso levou companhias americanas a acumularem estimados US$ 2,6 trilhões em lucro fora das fronteiras do país. A reforma de dezembro mudou a forma de tributação e criou incentivos para as empresas repatriarem os recursos. Em vez de 35% de IR, elas pagarão 15,5%. No dia 17, a Apple anunciou que levará para os EUA os recursos que mantém no exterior, pelos quais pagará impostos de US$ 38 bilhões. Isso corresponde a um total de US$ 252,3 bilhões, o maior volume mantido por uma companhia americana fora do país.A inclusão tornou-se diretriz da multinacional no Brasil. Na mais recente seleção de trainees da gigante de auditoria e consultoria PwC, foram selecionadas pelo país 40 pessoas com deficiência de uma só vez, número recorde para a empresa e que chama a atenção em qualquer processo seletivo.A medida não é acaso nem tomada para atender a lei, a inclusão tornou-se diretriz da multinacional no Brasil. Nos últimos dois anos, todo cargo vago nas áreas técnicas e administrativas na companhia tem de ser preenchido , preferencialmente, por uma pessoa com deficiência.Para 2018, a empresa pretende adotar outra medida inclusiva pouco comum, alocar orçamento específico para acessibilidade e inclusão. O recurso, ainda sem estimativa de valor, será tanto para a adoção em suas unidades de mudanças arquitetônica como para implantação de tecnologia de apoio ao trabalhador com deficiência. O dinheiro será usado também para a compra de equipamentos pessoais que possam melhorar a performance do empregado, como cadeiras de rodas modernas, óculos especiais para deficientes visuais, aparelhos auditivos para surdos, entre outros. “Nossas equipes estão focadas no tema inclusão e a conscientização para ir além acontece no dia a dia. Não abrimos mão da competência, ninguém entra pela porta dos fundos, mas também não nos conformamos com a mentalidade de que não há gente capacitada. O trabalho é pró-ativo em busca desses profissionais”, afirma Marcos Panassol, sócio da PwC. Três dos 15 funcionários com deficiência visual da empresa receberam óculos de inteligência artificial que fazem, entre outras coisas, reconhecimento facial e leitura de documentos. Cada unidade custa R$ 15 mil. Segundo os dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2015, 403,2 mil pessoas com deficiência atuam formalmente no mercado de trabalho, correspondendo a 0,84% do total dos vínculos empregatícios. Cerca de 10 milhões de brasileiros com deficiência teriam capacidade de preencher vagas de emprego por meio da Lei de Cotas, em estimativa do ministério. Para Tabata Contri, consultora de inclusão da Talento Incluir, “as empresas estão entendendo que incluir não é apenas contratar”. “Inclusão não é caridade, e sim troca. Pessoas com deficiência podem trazer resultados se forem olhadas como profissionais, se prepararmos os gestores com informações suficientes para que se sintam capazes de fazer a gestão de qualquer pessoa, se olharmos que acessibilidade é importante para o mundo, não só para quem tem deficiência.”A população de trabalhadores com carteira assinada no setor privado no País totalizou 33,321 milhões de pessoas no quarto trimestre de 2017, o nível mais baixo da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012,informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 31.O auge da carteira assinada ocorreu no segundo trimestre de 2014, quando alcançou 36,880 milhões de trabalhadores. “O mercado de trabalho tirou pessoas com carteira assinada, mexeu com a estabilidade. Essa pessoa que perde o emprego com carteira é responsável pela estrutura familiar. E essa estrutura familiar (os integrantes da família), para compensar, parte para o mercado de trabalho. Muitas vezes isso se dá não pela perda do emprego, mas da estabilidade, da carteira assinada”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. Com o fechamento dos postos formais, trabalhadores tentaram reforçar a renda familiar atuando por conta própria. No quarto trimestre de 2017, 23,198 milhões de pessoas estavam trabalhando por conta própria, o maior patamar da série histórica da Pnad Contínua.